segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Cerâmica Tapajoara

Nós mocorongos alguma vez já ouvimos falar sobre a cerâmica tapajoara. Quem cursou ensino fundamental na região, aulas de estudos sociais ou aulas de estudos paraenses, já deve ter estudado esse assunto. A cerâmica é a mais antiga de todas as indústrias. Desde os primórdios dos tempos, o homem se utiliza do barro endurecido para produzir utilitários domésticos.

Fiquei surpreso quando recentemente um pesquisador aqui do INPE fez um comentário comigo a respeito da cerâmica tapajônica. Pesquisando sobre o asunto encontrei muita coisa na internet, inclusive em sites estrangeiros que tratam do assunto (EUA e Europa). Livros que tratam do assunto podem ser encontrados a venda pela internet, como: Cerâmica Arqueológica da Amazônia, de autoria de Denisi Maria Cavalcante Gomes e Arte Rupestre na Amazônia da professora da UFPA Edithe Pereira do Museu Paraense Emilio Goeldi.

O fato é que a cerâmica tapajônica é um ícone da cultura dos índios que habitavam a região em torno do que hoje é a nossa cidade (ver mapa ao lado). Essa região é considerada o maior sítio pré-histórico da Amazônia. O que mais podemos lamentar é que não existe nenhum museu de arqueologia na região. Existem exemplares dessa cerâmica em muitos museus espalhados pelo mundo. Encontrei muitas reportagens sobre o comércio ilegal dessas peças arqueológicas. Esse comércio é abastecido sobretudo por achados casuais feitos em comunidades rurais ao redor de Santarém. Geralmente são fragmentos, encontrados em beira de rio ou em lavouras --boa parte da agricultura familiar da região se desenvolve sobre sítios.

A seguir temos alguns trechos de uma
matéria da Folha de São Paulo de 17/10/2005 que trata da falta de valor dado a cerâmica tapajoara. Quando questionado sobre se já havia encontrado artefatos pré-históricos, o agricultor Pedro Santos respondeu: "Dia desses bati com a enxada num machado de pedra. Joguei foi fora". Apesar de possuir uma pré-história rica, que atrai pencas de visitantes a exposições no sul do país e ainda desafia os arqueólogos, a região do baixo rio Tapajós não tem nenhum museu de arqueologia. Não há tampouco arqueólogos trabalhando na cidade para supervisionar construções e obras públicas. A cidade foi erguida sobre grandes extensões de terra preta, nome dado aos sedimentos escuros formados por ocupações humanas de grande densidade ou duração. Ali ficava a sede do cacicado dos índios tapajós, uma nação poderosa e politicamente organizada, que deu origem à lenda das Amazonas. Um relato do século 17 fala em 60 mil guerreiros sob o comando de seu chefe. A urbanização fez com que boa parte do centro de Santarém e o bairro conhecido --não por acaso-- como Aldeia soterrassem os sítios. É rotina, em construções, aparecerem cacos de cerâmica tapajônica ou mesmo peças de pedra. O registro arqueológico, não raro, é destruído no processo. "Não temos camadas históricas [do século 16] na região do porto de Santarém porque um trator da Companhia das Docas do Pará arrancou de 10 a 20 centímetros da superfície para "limpar" a vegetação", queixa-se a arqueóloga americana Anna Roosevelt, da Universidade de Illinois em Chicago, única pesquisadora a realizar escavações sistemáticas na cidade.

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